sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Aniversários


Nunca compreendi muito bem isto de se comemorar a passagem dos anos.Enfim, percebo que seja um pretexto para fazer qualquer coisa de diferente, nem que seja reunir a família à volta de uma mesa a cantar em coro. É sempre um momento fofo.Mas há coisas que odeio nos aniversários.Desde logo, a versão longa da musiquinha, quando é prolongada com 2 quadras que não acrescentam nada. E metem uma componente religiosa qua a mim, como ateu, me dá uma certa comichão.Na na na na... porque Deus assim quis... bla bla...Amigos, isto está claramente a mais! Não é preciso! As duas quadrinhas principais cumprem perfeitamente a função! Só estão a prolongar ao exagero uma coisa que até estava a correr bem! E a dar ao tio Alfredo mais uma oportunidade de nos massacrar ostensivamente com a sua pretensa voz de barítono desafinado.A malta quer é que a cantoria acabe, para malhar no bolo e no champanhe e retomar as conversas interrompidas quando de repente alguém apagou a luz.
Independentemente de algum prazer que possa tirar desse “happening” social, a marcação da passagem dos anos já me faz pensar que dei mais um passinho para o fim da viagem. Uma espécie de fim de férias, quando se aproxima o dia do regresso. Sinal do tempo: já estou numa fase em que assinalar a data do nascimento faz-me ter saudades do útero quentinho onde tudo começou...

Espirrar para dentro

Vejo um espirro como uma libertação súbita de energia, uma explosão de qualquer coisa que temos que libertar instantaneamente.Ora, há pessoas que espirram para dentro.Não espirram. Impirram.Um impirro não liberta energia, não é uma explosão, é uma implosão.E como qualquer implosão, pode causar destruição interna.Confesso que me fascina ver pessoas a dar valentes impirros.Fico sempre à espera que os olhos, as orelhas, o nariz, enfim, qualquer coisa lhes salte da cabeça no próximo impirro.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A cabeça do menino

O puto irrequieto combatia o aborrecimento da viagem correndo ao longo do corredor do autocarro.

O autocarro parou, saíram e entraram passageiros, e o motorista fechou a porta do autocarro no momento em que o rapaz metia a cabeça de fora.

O puto gritou quando sentiu a pressão na cabeça entalada.

A mãe correu, aflita:

- Ó sr. Motorista, olhe a cabeça do menino!

O motorista voltou a abrir a porta, o puto soltou a cabeça e voltou para o interior, correndo para junto da mãe.

A mãe segurou-o, e deu-lhe uma sonora chapadona, audível no fundo do autocarro, que lhe apanhou a cara e boa parte da orelha esquerda.
O puto cambaleou e bateu com a testa no tubo cromado, enquanto a mãe vociferava:

- Toma lá, meu estapôr, para aprenderes a ter cuidado com a cabeça!

Ervas medicinais


Um amigo contou-me esta estória. Parece coisa de anedota reciclada, mas conto na mesma.

A dada altura da sua vida, vivia ele em casa da avó, e resolveu criar uma pequena plantação de erva na discreta marquise que constituía o prolongamento do seu quarto. Com carinho e algum cuidado, tinha já uma esplendorosa copa de canábis, vistosa e madura, que tencionava usar em proveito próprio ou para cimentar algumas amizades.
A plantinha, inevitavelmente, despertou a curiosidade da avó. Questionado, justificou como sendo uma planta que lhe recomendaram para fins medicinais, e quando estivesse frondosa daria um chazinho milagreiro para as suas dores nas costas.

Certa vez chegou a casa e encontrou a avó e duas amigas estranhamente alegres.
Tomavam chá, o chazinho para as dores nas costas, colhido diretamente da ervinha encontrada no vaso da marquise.